sábado, 9 de janeiro de 2010

"Não há Salvação Fora da Caridade!"


Essa semana vivi uma situação que me fez refletir. Uma realidade já corriqueira aqui no rio, mas que me deixou pensativo durante alguns minutos. Precisava ir ao dentista de tarde, mas antes passei no banco pra guardar um dinheiro na poupança. Guardei lá a quantia e caminhei até a rodoviária. Tomei o ônibus e sentei. Do lado de fora se aproximou um morador de rua que pediu dinheiro a um rapaz sentado na minha frente. Ignorado, olhou-me fixamente de forma que não consegui lhe dar mais uma dose de indiferença. Sentindo-me um pouco desconfortável, o encarei. De mãos estendidas, me pedia o dinheiro do almoço. "É que ainda não comi nada hoje". Não acreditei, disse que não tinha. Lágrimas umideceram seus olhos amarelados. "É pra eu comer, to com muita fome, por favor". Não resisti. Naqueles poucos instantes muita coisa passou na minha cabeça. Me vi ali, seguro, sentado, alimentado, vestido em roupas limpas. Olhei aquele menino, sujo, com uma caixa de sapateiro na mão, rogando por um pouco de comida. Não poderia ser tão duro. Pedi pra que esperasse e tirei da carteira o suficiente pra um lanche. Entreguei-o. Como aquele semblante de satisfação me comoveu! O ônibus partia e ele não parava de me agradecer, batendo no peito esquerdo.

E segui refletindo.

Muitos diriam que sou ingênuo. "Ele vai comprar cola!". Acostumados com essa realidade, já se condicionaram a ignorar. E pode até ser que tenham razão. Talvez eu tenha sido comovido por um choro digno de novela. Mas o que eu poderia ter perdido com isso? Eu vestia um tênis de marca, acabava de depositar uma quantia que o alimentaria durante muitos dias! E isso é o de menos! Tenho uma família, pai e mãe. O que ele tem? O que eles têm?

- Infelizmente, quase sempre, a nossa indiferença.