quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Cá estou


Cá estou, de volta. Quase já nem lembrava a última vez, quando falei de saudade. E pra ser sincero, já nem me lembro de qual falava. Talvez sobre a angústia do término ou da iminência deste. Temia o término (ou seu plural). Pois bem, ei-lo: terminou. Hoje, algum dia de dezembro de 2012, encontro-me há um ano da formatura. Formei-me em Direito.

Cabe recordar que iniciei esse blog expondo as minhas razões de escrever. Relembro, e relembro-me, que a principal delas é o registro do passado, tal como numa fotografia: a foto de mim mesmo. É uma projeção, para a posteridade, da atual subjetividade, que corre como um rio, nunca se mantendo a mesma com o decorrer dos dias e dos anos.

Já carrego comigo idade suficiente para constatar o quão isso é interessante. Reler o que se escreveu no passado é como rever um velho amigo que continua o mesmo, mas você mudou.

Não posso deixar de registrar, portanto, o que me fez voltar aos arquivos de mim mesmo. Foi o despertar da ideia de um bom amigo, velho irmão nas letras. Deixo aqui mais esse dado e a ele meus agradecimentos. Já não lembrava o quanto me sentia inteligente ao escrever.

E vamos ao clichê. Dezembro de 2012, não é? Final de ano pede sempre uma retrospectiva e, no meu caso, uma longa retrospectiva, pois já se passaram mais de dois anos. Deixa-me lembrar... Sim.

Do nono período de faculdade até hoje. Parece que de lá até a formatura tudo correu bem, à exceção de um pequeno obstáculo criado pelo orgulho e egocentrismo de um professor de direito tributário. A psicologia certamente explica o problema dele. Fora isso, produzi uma bela monografia, apresentei-a com o coração na boca, mas me sai muito bem no final.

Daí em diante, as solenidades. Antes, a reunião da turma para as fotografias do convite de colação. Um clima diverso do habitual, em que se percebia relativa maior abertura entre as pessoas, apesar de ainda insuficiente.

É interessante notar como as turmas de Direito da UERJ durante a manhã são tão mais circunspectas que as da noite. Fiz pouquíssimos amigos nesses cinco anos. Não que eu não tenha parcela de culpa nisso. Como já ouvi dizer: as únicas coisas que aprisionam uma mente brilhante são a preguiça e a timidez. Sofro das duas coisas.

Seguiram ainda as últimas “chopadas” que me seriam permitidas enquanto aluno. Foram quatro idas que me renderam grandes perturbações no namoro, mas que me garantiram a ausência de arrependimento futuro. Tiveram um valor meramente simbólico, que faria doer hoje se eu não tivesse vivido.

Alguns meses depois, a colação de grau. Meus pais, familiares e alguns dos amigos mais próximos. Sensação nova e indescritível. A cerimônia certamente foi considerada longa pelos convidados, mas para nós, formandos, foi breve demais para os cinco anos vividos ali. Cumprimentei os professores homenageados, recebi o canudo simbólico das mãos da paraninfa e, dos meus pais, o tradicional anel de ouro com sua gema de rubi. Senti-me privilegiado por tudo isso.

Já em fevereiro de 2012, a festa. Poucos convites e mais amigos do que havia parado pra pensar, eu que freqüentemente me sinto um misantropo solitário. Se bem que, ao comparar com outras pessoas, meu número de amigos é bem pequeno. Fiz amigos no pré-vestibular, tenho grandes amigos de infância, e apenas dois, um, ou talvez nenhum, amigo na faculdade.

Eis que eu possuía poucos convites e me surpreendi ao ter de escolher. Vali-me da equidade e apliquei minha própria justiça como critério de escolha: não poderia convidar todos os amigos do pré-vestibular. Como teria que deixar dois ou três de fora, preferi excluir todos. Ainda sinto que isso causou um abalo nas relações. Não compreenderam meu critério de escolha, nem acreditaram em mim quanto aos convites. É a tendência de nós, humanos, pendermos para a versão negativa dos fatos.

Optei, então, por convidar meus três grandes amigos de infância, que compraram os três únicos convites extras possíveis para suas respectivas namoradas.

A festa também foi inesquecível. Inicialmente o tempo para os reencontros e filmagens e fotos. Depois a valsa e a pista de dança, em seguida. Muita alegria no ar e outra sensação indescritível, potencializada pelas bebidas (vodka, whiskie, champagne, drinks , etc). A comida não merece comentário, pois péssima, mas não o suficiente para tolher a euforia do lugar.

Depois de tudo isso, de fato terminou. A faculdade se foi, aquela rotina se foi. E o mais interessante: sinto mais falta do estacionamento, daquele cenário externo, relativamente verde em meio ao concreto armado e frio do prédio da universidade.

Da última vez que escrevi, sentia saudades antecipadas. E cá estou hoje, em retorno, escrevendo no final desse ano de formatura. O que sinto? - A apreensão da espera de uma colheita futura, torcendo para que nenhuma praga ou intempérie arruíne a ceifa.

Cá estou, dezembro de 2012. Amanhã, quando reler, direi: "lá estava ele, não eu".